O governo sofreu quatro derrotas em votações no Congresso que apontam que a pauta proposta pelo Palácio do Planalto está dissociada do pensamento de deputados e senadores.
A derrubada dos vetos da saidinha, da criminalização das fake News, de dispositivos na LDO que impedem o Executivo de financiar atos que redundem em invasão de terras e, finalmente, da taxação de 20% das compras no exterior, apontam que o governo perdeu o discurso em assuntos populares, o que corrói ainda mais a gestão do presidente Lula. Já há uma discussão, inclusive, para recorrer ao STF sobre a questão da saidinha – o que vai significar mais impopularidade.
O Planalto tem suas pautas delimitadas por sua visão de centro esquerda, mas elas não dialogam com um Congresso de centro direita.
O grupo ligado ao ex-presidente Bolsonaro encontrou um jeito fácil de ganhar visibilidade e desgastar o governo, sem mexer na área econômica: discutir e propagar pautas de costume.
Para quem faz contas de cada 1% perdido a cada pesquisa, assuntos como os debatidos na sessão desta terça-feira, com derrotas na narrativa, vão corroendo ainda mais a imagem do governo e, consequentemente, da popularidade de Lula.
Lula 3 é Dilma 2 – A base governista passará o feriado no divã. No dia seguinte às derrotas no Congresso, líderes aliados já faziam diagnósticos do problema: faltam gestão e articulação política.
Os mais desanimados afirmam que ou o presidente Lula faz um freio de arrumação ou “pode ser o início do fim”. “Desarticulação assim só foi vista em Dilma 2”, comparou um dos líderes do governo.
Os relatos ouvidos pelo BAF incluem reclamações de que “o governo trata mal quem vota a favor e trata bem quem vota contra”, que gente com cargo no Executivo trai no plenário e que há muito orçamento disponível, “mas o governo não amarra”, ou seja, fica na dependência da boa vontade do parlamentar nas horas cruciais.
Há uma percepção de que o líder governista no Congresso, Randolfe Rodrigues, poderia se dedicar mais às negociações, mas por outro lado avalia-se que o governo não dá respaldo suficiente para seu representante. “Não pode ser articulação de gogó”, resumiu um aliado.
Ainda não está no radar dar mais cargos na Esplanada ao Centrão, mas o que alguns defendem é que o governo busque conectar suas pautas com o perfil do Congresso e uma agenda (além da econômica) que convirja com o Centrão, “empoderando mais” os líderes deste bloco.
Enquanto os ajustes na articulação não acontecem, o que se vê na Câmara é um líder do governo (José Guimarães) visivelmente cansado e o crescente medo dos governistas de qual pauta conservadora a oposição vai emplacar na semana em que não há agenda econômica na programação.
Chico de Gois e Daiene Cardoso – Direto de Brasília
Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles