A pressão política dos parlamentares prevaleceu e o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), confirmou em Davos que há compromisso com o governo para que nova Medida Provisória seja publicada e, dessa forma, seja mantida a desoneração da folha de pagamento de 17 segmentos econômicos.
A saída encontrada evitou que Pacheco rejeitasse formalmente a MP 1202, afinal, ele também quer evitar maiores atritos com o Executivo. Um ponto importante nesse contexto é o da convergência entre seu destino político em 2026 e a renegociação da dívida bilionária de Minas Gerais com a União.
Fernando Haddad se reuniu ontem com Arthur Lira e fontes do Ministério da Fazenda relatam que ele gostou do que ouviu do presidente da Câmara. Essa diplomacia entre governo e Congresso faz parte da rotina de Haddad e, neste momento, a maior tensão está na revolta da bancada evangélica contra a mudança da tributação da renda dos integrantes de organizações religiosas.
O governo continua tentando reduzir os danos e técnicos da equipe econômica revelam que a forma das mudanças trazidas pela MP 1202 é menos importante, mas que não desistiram de acabar com a distorção provocada pela desoneração da folha. A Fazenda sabe que, apesar dos discursos dos parlamentares, não é o emprego que está sendo protegido, mas o alívio no custo das empresas.
Lula entra em campo – Haddad revelou que Lula quer discutir diretamente com o presidente do Congresso o destino da MP 1202. Segundo o ministro da Fazenda, o governo mantém seu plano de voltar a tributar, gradualmente, os 17 segmentos econômicos que tiveram o benefício prorrogado até 2027.
Haddad disse que Pacheco quer tratar separadamente a questão da desoneração da folha, o que não foi feito quando o Executivo publicou a MP 1202. O ministro evitou comentar o que Pacheco disse em Davos. Haddad informou que terá duas reuniões com líderes dos partidos na Câmara e no Senado, provavelmente na última semana de janeiro.
Ao anunciar que o presidente Lula entrará pessoalmente nas negociações, Haddad sinaliza que as conversas com o Congresso até aqui estão mais difíceis do que se esperava e que a ala responsável pela articulação política não está dando conta de fechar um acordo.
Foram pontuais as situações em que Lula entrou em campo em um ano de governo, mas diante da crescente reclamação de que o Executivo não cumpre sua parte nos acordos firmados, os líderes vão exigir empenho do próprio presidente. Se a palavra dos líderes do governo no Parlamento e dos ministros palacianos não é suficiente, a do chefe tem de ser.
Arnaldo Galvão e Daiene Cardoso – Direto de Brasília
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado