Se tudo acontecer como Lula planeja, Fernando Haddad terá 67 anos quando for o candidato do PT às eleições presidenciais de 2030. Planos e realidade nem sempre se encontram, mas o ministro da Fazenda tem correspondido às expectativas do presidente.
O ano passado mostrou que, apesar de um Congresso pouco amigável na teoria, a prática foi outra. Haddad alcançou vitórias relevantes, todas com sofrimento e muita negociação, mas contrariou apostas.
Ontem, durante duas horas de entrevista no programa Roda Viva, o ministro mais poderoso de Lula explicou porque insiste na meta de equilíbrio entre receitas e despesas, voltou a atacar privilégios que drenam o super rígido orçamento brasileiro, defendeu a MP que restabelece a tributação da folha de pagamento de 17 setores e sugeriu uma reforma administrativa que comece a atacar as exageradas vantagens da parte de cima da pirâmide do funcionalismo público.
Ele deixou claro que tudo o que ele faz tem o apoio do presidente. Para que Haddad continue sendo o candidato do PT em 2030, falta muito para que o terceiro mandato de Lula seja essa alavanca política para o ministro da Fazenda.
Fugindo dos estereótipos – Haddad disse na longa entrevista que quer fugir dos estereótipos e caricaturas que repetem os clichês de a esquerda ser gastadora e a direita colocar as contas públicas em ordem. O ministro da Fazenda reconheceu que o equilíbrio fiscal é importante, mas o preço do ajuste não pode ser pago pelos trabalhadores e pelos mais pobres. Ele ressaltou que é muito importante mostrar os gastos tributários e quem ganha com esses privilégios que destroem a arrecadação.
No PT e no governo, há quem tenha dificuldade para concordar com Haddad. A ansiedade é grande para mostrar serviço e convencer os eleitores dos benefícios que a presidência de Lula representa aos mais pobres. A presidente do PT já admitiu que está preocupada com a falta de entusiasmo das pessoas no primeiro ano do mandato.
Haddad insiste que o equilíbrio fiscal é pressuposto para construir um país melhor, mas é uma obra coletiva que envolve o Judiciário e o Legislativo.
O ministro disse que tem muita convicção do que defende há 13 meses. Para ele, o cenário ideal é continuar a arrumação para que o Brasil seja muito beneficiado com a redução dos juros nos EUA e na Europa, o que vai permitir a continuidade dos cortes na Selic.
Autonomia do BC – O ministro negou que há discussão no governo para propor mudanças na lei que determinou a autonomia operacional do Banco Central.
Ele reconheceu que é desafiadora a situação enfrentada, pela primeira vez, por um presidente eleito que não escolheu o presidente do BC. Na avaliação dele, talvez seja excessivo deixar o desencontro de mandatos por dois anos.
Apesar das dificuldades iniciais, Haddad afirmou que as equipes da Fazenda e do BC tiveram postura institucional construtiva até mesmo quando divergiram. Ele revelou que a Fazenda ajudou muito naquela discussão de reduzir a Selic em 0,5 ponto ou 0,25 ponto em agosto do ano passado.
Ontem o ministro evitou dar detalhes sobre a escolha do sucessor de Roberto Campos Neto na presidência do BC. Limitou-se a dizer que um dos diretores indicados por Lula pode ocupar o cargo, mas também pode ser alguém que ainda não está lá.
Haddad disse que se fosse presidente do BC, teria cortado os juros antes de agosto porque havia espaço, mas ele admitiu que a partir do segundo semestre de 2022, o contexto internacional piorou. Na avaliação do ministro, a taxa de juros nos EUA é piso no mundo e, neste momento, espera cortes neste semestre, o que pode beneficiar muito a economia brasileira.
Arnaldo Galvão – Direto de Brasília
Foto: Diogo Zacarias/MF