O discurso raivoso de Lula contra um setor do agro – que chamou de “fascista” e “negacionista”, ontem, na Bahia – deixou explícito um problema que vem sendo apontado por aliados desde o início do governo: a dubiedade. Lula sempre usou o expediente de moldar seu discurso conforme o público e, assim, agradar a todos. Isso funcionou durante seus dois governos mas, agora, com a velocidade da informação e transmissões de discursos ao vivo, já não funciona mais. Pior, acaba indispondo o presidente com diversos setores. Segundo interlocutores de Lula, o presidente tinha a “melhor das intenções” ao tentar separar o setor do agro “atrasado” – que desconvidou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, do Agrishow, em Ribeirão Preto – do agro “moderno”, preocupado com a produção de alimentos de qualidade conciliada à preservação ambiental. Só que mais uma vez o presidente errou na dose e aprofundou o fosso que separa o governo do setor, apesar dos esforços para atrair apoio nesta área como, por exemplo, a liberação de créditos e inclusão de representantes do agro no Conselhão.
Ricardo Galhardo – Direto de São Paulo
Foto: Joseph Eid, AFP