O inconformismo de Lula com a perda de poder no seu terceiro mandato presidencial tem se revelado nos conflitos que envolvem a autonomia operacional do Banco Central e a privatização da Eletrobras. Apesar da linguagem forte que marca os comentários do presidente, o maior problema político é o da governabilidade e a delicada relação do Palácio do Planalto com o Congresso. Se Rodrigo Pacheco está politicamente mais próximo que Arthur Lira, as críticas de Lula a Roberto Campos Neto irritam senadores que aprovaram a Lei Complementar 179/2021. A ideia de reverter a privatização da Eletrobras tem o mesmo sinal do governo para os parlamentares. A Medida Provisória que autorizou a venda do controle da estatal de energia teve muito debate sobre os jabutis, mas a privatização teve menos resistência. Se a relação do governo com a Eletrobras tem essa tensão, o que vai acontecer com Petrobras, Banco do Brasil e Caixa? O desafio imediato é a aprovação do novo marco fiscal, mas a falta de apoio parlamentar robusto no Congresso tem sido um risco preocupante para o Executivo. A LDO pode ter, mais uma vez, o aumento do escopo das emendas impositivas. Além disso, o Centrão prepara um deslocamento das atribuições dos ministérios comandados por petistas ou por políticos muito próximos de Lula. A MP que reorganizou o Executivo pode sair muito diferente do que entrou.
Arnaldo Galvão – Direto de Brasília
Foto: Miguel Schincariol, AFP