Criticado ao longo de 2023 pela falta de tato com os parlamentares e por tratar a política nacional como se ainda estivesse inserido na política baiana, o ministro Rui Costa (Casa Civil) deve se tornar o interlocutor do governo com o presidente da Câmara.
A medida pode acalmar neste momento Arthur Lira e, caso ela se firme no cotidiano das negociações com a Câmara, tende a esvaziar as funções de Alexandre Padilha (Relações Institucionais). Ao reproduzir as críticas públicas de que o governo não vem cumprindo compromissos assumidos e que o Congresso segue aprovando as matérias de interesse do Palácio do Planalto, Lira reforça ao presidente Lula a dificuldade de manter Padilha na intermediação dos acordos.
O gelo no ministro da articulação política ajuda a estreitar a linha direta com o presidente da República. Se a partir da conversa de hoje o jogo político será realmente zerado, só o tempo vai dizer.
Lira mostra apoio – Interlocutores do presidente da Câmara revelaram que a reunião de hoje com Lula foi positiva. O aspecto mais importante foi o sinal do presidente da República de compreensão do contexto político entre os deputados.
Lira citou uma longa lista de vitórias do governo na Casa, mas fez questão de ressaltar que ele foi o primeiro chefe de Poder a parabenizar Lula pela vitória na eleição de 2022.
Outros exemplos indiscutíveis de boa vontade com o governo Lula foram listados por Lira. A PEC da Transição e a rápida condenação aos atos de 8 de janeiro de 2023, com a aprovação da intervenção federal na segurança do Distrito Federal, foram lembrados na reunião de hoje. Lira citou a Reforma Tributária e o novo marco fiscal como vitórias do governo que foram amplamente apoiadas pelo Congresso.
Apesar desse histórico, o presidente da Câmara reclamou que vetos do Executivo, nomeações na administração federal e emendas dos parlamentares são causas de frequentes queixas entre os 350 deputados que não são governistas “de carteirinha” mas que, muitas vezes, votam com o Planalto.
Lira sabe que Lula administra o tempo como fator principal da sustentação de um governo que tem apenas 130 deputados apoiando o Executivo incondicionalmente.
Folga de Carnaval – Após a tão esperada reunião, Lula e Lira terão dias de folga de Carnaval. O período festivo tende a ajudar a reduzir o clima de animosidade provocado pelas últimas medidas do governo e o duro discurso do presidente da Câmara na abertura do ano legislativo.
Lula deve descansar nos próximos dias na Bahia e Lira deve passar pelo Carnaval de Salvador, no camarote de Elmar Nascimento, pré-candidato à presidência da Casa em 2025.
Câmara e Senado não têm nenhuma atividade legislativa agendada para a próxima semana, ou seja, os trabalhos só serão retomados a partir do dia 19.
Tradicionalmente a Câmara volta do recesso de Carnaval focada nas negociações em torno da formação das comissões temáticas, mas este ano a evolução das investigações envolvendo o núcleo bolsonarista estará na ordem do dia, junto com as negociações sobre a MP 1202. O Senado pós-Carnaval será marcado pelas movimentações para a instalação da CPI da Braskem e a escolha do relator dos trabalhos.
Daiene Cardoso e Arnaldo Galvão – Direto de Brasília
Foto: Sérgio Lima/AFP