Assim como o tradicional reduto etílico-gastronômico de Buenos Aires, bairro de São Paulo tem cada vez mais endereços imperdíveis.
Edson Rossi
Duas características marcam Palermo, o tradicional bairro que desde a virada dos anos 2000 se tornou sinônimo de melhor destino em Buenos Aires. A primeira é seu lado artístico-gastronômico-etílico, com endereços únicos, especialmente no chamado Palermo SoHo (e agora também na vizinha Villa Crespo). A segunda são suas indefectíveis esquinas chanfradas. Fenômeno similar tem acontecido na tradicionalíssima Pompeia, na Zona Oeste de São Paulo – incluindo as esquinas chanfradas. A despeito da verticalização acelerada, ou justamente por causa dela, existem cada vez mais opções de bons bares & restaurantes (de excelência técnica e que não esfolam o bolso). Há outra vantagem: os endereços ainda atraem (quase) exclusivamente o público local, o que faz uma diferença e tanto se comparada a encarar redutos mais afamados da mesma parte da cidade, como Pinheiros e Vila Madalena.
Antes de falar dos melhores lugares da Pompeia será preciso delimitar o bairro. O que não é tarefa fácil nem para moradores, nem para os registros oficiais da Prefeitura da cidade. OK. Você deve se perguntar pra que importa onde bairros começam ou terminam, tema mais imobiliário que gastronômico. Não em São Paulo. Saber isso mudará toda a experiência. É quase questão comportamental. Um bar na Vila Olímpia é totalmente o oposto de seu congênere da Vila Madalena. O ótimo restaurante MoMa-Itaim não espelha o igualmente ótimo MoMa-Pinheiros. São códigos silenciosos. Toda cidade tem e só os locais entendem.
Dito isso, a classificação mais aceita como limites da Vila Pompeia tem como extremidades o estádio Allianz Parque ao norte. Pro lado esquerdo, a rua Francisco Figueiredo Barreto, dando início à Vila Romana. Pro lado sul, a borda será a via em que termina a Tucuna, a rua Francisco Bayardo, paralela à Cajaíba. Por fim, a fronteira à direita, na rua Diana. O que está no meio desses quatro pontos é a Pompeia. Talvez a divisa mais controversa seja justamente a última. Um bom argumento, no entanto, é que a Diana faz tudo o que está a leste (sentido avenida Sumaré) trocar de nome. Passa a ser o bairro de Perdizes: a rua Padre Chico vira João Ramalho; a Ministro Ferreira Alves vira Bartira; a Desembargador do Vale vira Caiubi…
Limites feitos, vale dizer que a Pompeia (loteada nos anos 1910) passou mais de um século sem demonstrar a vocação para se tornar pop, esse polo atual do comer & beber. Depois dos anos 1920, a vila concentrou uma forte população de imigrantes (italianos, espanhóis, húngaros) em torno das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM), do italiano que fez de São Paulo uma locomotiva industrial. Nas bordas do bairro foi erguido o maior parque fabril da cidade. Mesmo assim, era um local de locais. Por décadas nada alterava sua sina. Nem abrigar, a partir de 1982, o lindo Sesc Pompeia – projeto da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992). Nem mesmo antes, ao ter virado (nos anos 1960) berçário do rock nacional: dali saíram as bandas Made in Brazil e Tutti Frutti, além dos irmãos Arnaldo Baptista & Sérgio Dias (Mutantes) – Rita Lee era da Vila Mariana, mas adotou (e amava) a Pompeia.
Sesc Pompeita… rock nacional… estádio do Palmeiras… Nada parecia suficiente para startar o boom. Corta. Isso mudou. Apesar de reunir endereços de várias idades, alguns até históricos, a explosão dessa Pompeia cool é recente. Porque cada vez mais são os novos projetos que talham o perfil à Palermo do bairro paulistano. A lista a seguir de 25 endereços (10 bares e 15 restaurantes) é totalmente arbitrária e injustamente não trará vários bons nomes. Seja porque são lugares ‘fora’ da Pompeia, apesar de vizinhos, seja porque faz tempo que não visito – todos os locais aqui listados são espaços que conheço. Nenhum terá avaliação abaixo de 4.4 no Google. Será uma amostra do quanto você pode concentrar seu passeio ou sua visita a esse canto de São Paulo. E querendo voltar para explorar o restante. Aqui vão apenas meu Top 25. Há outras dezenas. Que você ame a Pompeia como Rita Lee amou a Pompeia.
10 BARES:
Capitão Barley
DNA: #cerveja artesanal
Por que ir: porque rock com hambúrguer e cerveja é tudo de bom
Cascasse
DNA: #drinques
Por que ir: porque os drinques e o ambiente são ótimos
Cervejaria Perdizes
DNA: #cervejaartesanal
Por que ir: o clima é de quintal de praia e as cervejas são ótimas
Desembargador
DNA: #família #porções
Por que ir: para curtir frituras, chope, drinques, ver jogo na TV…
Dom Xixo
DNA: #palmeiras
Por que ir: para se sentir bebendo legal, comendo legal, torcendo legal (pro Palmeiras)
Esquina do Souza
DNA: #caipirinhas
Por que ir: porque a coxinha é campeã e a oferta de caipirinhas (leves e docinhas) é grande
Ginger
DNA: #drinques
Por que ir: para beber drinques bem elaborados e sem afetação
Lanchonete Souza
DNA: #notívagos
Por que ir: porque sempre terá um lanchinho restaurador 24 horas todos os dias
Tiro Liro
DNA: #boteco
Por que ir: porque sempre tem aquela porção que você estava querendo e não sabia
Velho Rabo
DNA: #carne vermelha
Por que ir: para garantir o ‘esquenta’ de um show ou jogo no Allianz Parque
15 RESTAURANTES:
Aromas Café
DNA: #venezuela
Por que ir: para comer arepas fantásticas (e respeitar a Venezuela)
Azulejo
DNA: #pernambuco
Por que ir: porque com comida nordestina sempre se come bem
Barbatana Amarela
DNA: #água
Por que ir: porque tudo será do mar: entradas, pratos e até sandubas
Ecully
DNA: #bibgourmand
Por que ir: porque a cozinha, mesmo sem ser criativa, é corretíssima
Empório do Peixe
DNA: #água
Por que ir: para comer alimentos sempre frescos
Gusta
DNA: #espanha
Por que ir: porque a Adriana (dona) vai fazer você se sentir sempre muito bem
Leggera
DNA: #pizza
Por que ir: porque a pizza é bem boa, apesar do storytelling cansativo sobre eles
Mantovani
DNA: #itália
Por que ir: porque a cozinha é competentíssima e foge de italianadas que no Brasil imperam
MiCi
DNA: #cozinhademanifesto
Por que ir: porque não haverá concessões neste lugar de alta qualidade e 100% feminino
Peti
DNA: #bibgourmand
Por que ir: porque poucos lugares na cidade entregarão tanta excelência e originalidade
Petiskin do Bob
DNA: #água
Por que ir: porque vai comer como em um restaurante achando que está num bar
Pietá Bistrô
DNA: #tradição
Por que ir: apesar de a casa ser nova, o casal à frente (Arlindo-Vanessa) tem 40 anos na ‘restauração’
Sá
DNA: #japão
Por que ir: porque se comerá comida japonesa de verdade (sem rodízio)
San Telmo
DNA: #argentina
Por que ir: porque comer carne boa e empanadas tem de ser com eles
Vinoteca Paulistana
DNA: #ibérica&vinhos
Por que ir: porque o atendimento será acolhedor, a comida muito boa e os vinhos, garantidos