O ministro do MME, Alexandre Silveira, afirmou que não quer ser o ministro que fez a conta de luz aumentar, mas esse desejo vai ficando cada vez menos provável.
Com redução da energia afluente prevista para setembro, o ONS teve de ligar mais térmicas, levando a Aneel a acionar a bandeira tarifária vermelha patamar 2.
A divulgação da bandeira, na sexta-feira passada, ocorreu bem mais tarde do que o costume, com demora do ONS em definir o valor. O embate em definir a bandeira pode ter acontecido pois o PLD usado no cálculo foi de R$ 294,45/MWh, muito mais perto da banda superior da bandeira vermelha patamar 1, que é de R$ 271,58/MWh, do que do teto do patamar 2, de R$ 716,80/MWh (preço limite do PLD).
Com bandeira tarifária vermelha 2, a conta de luz deve subir e ser percebida pelo consumidor, muito mais do que o efeito da quitação da conta Covid e Conta Escassez Hídrica, conseguido pela MP 1212. Isso ocorrerá durante o período eleitoral.
Rito – Em resposta ao BAF, a Aneel informou que a definição da bandeira tarifária de setembro seguiu os procedimentos normais.
Questionada se houve erro no cálculo dos preços, a agência não respondeu diretamente. O ONS afirmou que, mesmo havendo erro no dado da UTE Santa Cruz, a definição da bandeira compete à Aneel. A CCEE ainda não respondeu ao BAF.
No bastidor, o BAF apurou com técnico do setor que a alteração do deck do ONS, com mudança nos dados da UTE Santa Cruz, poderia ter tido papel de elevar o valor do PLD para cálculo da bandeira, e não o contrário, o que, portanto, não levaria a alteração da bandeira para vermelha 1.
Desafios da semana – A reunião de setembro do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que aconteceria na quarta-feira, foi antecipada para esta terça-feira.
O BAF apurou que o MME alega “questão de agenda” do ministro pela mudança, porém a reunião acontece em clima quente, com o anúncio de que a bandeira tarifária será vermelha 2 em setembro.
A primeira semana do mês deve colocar bastante atenção sobre o MME, a Aneel e o ONS também por outros assuntos, como a dívida de uma das maiores comercializadoras de energia no Brasil, a 2W, de mais de R$1 bilhão. No dia 29 de agosto, o fator de alavancagem do grupo era de 1,8, segundo a CCEE.
A notícia pode colocar pressão para que o MME e a CCEE tenham de apertar regras contra as comercializadoras, ou ao menos em retórica se posicionar contra o segmento.
Outro ponto que deve chamar atenção ao setor esta semana é a pauta da reunião da diretoria colegiada da Aneel, trazendo a abertura de consulta pública sobre a MP 1232, que permite a venda da Amazonas Energia para o grupo JBS.
Há ainda o início da bandeira vermelha patamar 2, que deve reacender debates de grandes consumidores quanto a se evitar a contratação de energia cara – o que pode ficar apenas nos bastidores, e não publicamente, já que os grandes consumidores estão em fase de namoro com o ministro Alexandre Silveira após publicação do decreto do gás.
Equipe BAF – Direto de São Paulo
Foto: Reprodução