Desde que a Lei Complementar 179 entrou em vigor, em 25 de fevereiro de 2021, o Banco Central está vivendo o segundo teste mais intenso para exercer sua autonomia operacional. A primeira prova de fogo aconteceu no ano passado, quando os principais atores políticos do governo Jair Bolsonaro moveram todas as peças possíveis para ganhar a eleição, mas a política monetária se manteve na trajetória do aperto dos juros para combater a inflação. O segundo desafio, em andamento, tem contexto diferente. O presidente Lula critica a Selic de 13,75%, diz que não há inflação de demanda e cobra atenção, publicamente, de seus dois ministros que integram o CMN para a meta de inflação que ele julga ser exageradamente baixa. Lula não escolheu Roberto Campos Neto, mas o ambiente político de um BC autônomo tem de considerar mais debate público sobre a política monetária. Em Brasília, os personagens políticos que mais interagem com o BC afirmam que, descontadas as cores e os exageros do contexto atual, o que vai permanecer é uma relação diferente com o BC. A blindagem da autonomia operacional para as políticas monetária e cambial vai permitir, ao mesmo tempo, mais debate público sobre a atuação da autoridade monetária, como acontece nos países que têm experiência de bancos centrais autônomos ou até independentes.
Arnaldo Galvão – Direto de Brasília
Foto: Marcello Casal Jr.