Não é novidade que o ministro Paulo Guedes quer, desde 2019, desindexar, desvincular e desobrigar o orçamento da União, mas esse princípio defensável do ponto de vista fiscal pode, ao mesmo tempo, ser inimigo de Jair Bolsonaro na reta final da campanha do segundo turno. Faltam dez dias para a votação e o concorrente teve vantagem de seis milhões de votos no primeiro turno. A possibilidade de os aposentados não serem beneficiados pela correção monetária plena, revelada em reportagem da Folha de S.Paulo, pode colocar a campanha na defensiva. Na prática, se essa mudança for aprovada, significa que os benefícios do INSS podem ter redução gradativa no poder real de compra. O mesmo impacto da desindexação pode atingir o salário mínimo. A chapa Lula-Alckmin ressalta a mensagem da proteção dos direitos dos trabalhadores e aposentados ao criticar as reformas trabalhista e previdenciária. O ex-presidente Lula defendeu a regulamentação dos direitos de trabalhadores de aplicativos de entrega de mercadorias, proposta que vai na contramão da “carteira de trabalho verde e amarela” de Guedes. Resta saber qual será a modulação política que a agenda de Guedes vai receber até 30 de outubro e, mesmo se Bolsonaro for reeleito, como o Centrão vai abordar esses temas impopulares no Congresso.
Arnaldo Galvão – Direto de Brasília
Foto: Adriano Machado, Reuters