Conciliador e diplomático, o presidente do Banco Central enfrentou perguntas dos jornalistas durante quase duas horas no programa Roda Viva da TV Cultura, mas marcou sua posição contrastante com a do presidente da República. Se Lula o chamou de cidadão, disse que a autonomia do BC é bobagem e não há inflação de demanda que justifique a Selic em 13,75%, Roberto Campos Neto não surpreendeu quem o conhece. Com o conforto político de saber que os presidentes da Câmara e do Senado fizeram definhar as especulações sobre o fim da Lei Complementar 179/2021, Campos Neto disse que a instituição que preside se preocupa com o social. Revelou que concorda 100% com o ministro Fernando Haddad sobre a harmonização das políticas fiscal e monetária e que teve somente uma reunião com Lula, mas quer outras oportunidades para explicar por que os juros são altos no Brasil. Campos Neto não quis responder se foi votar com a camisa da seleção. Afirmou que o voto é ato privado, mas o importante é pensar nas coisas que foram feitas no BC. Reconheceu que está aprendendo e que o governo Lula é de coalizão. Portanto, defendeu que a hora é de se unir e esquecer coisas pequenas. Campos Neto desmentiu várias reportagens publicadas recentemente que atribuíram a ele concordância no aumento da meta de inflação. Na avaliação do presidente do BC, ele não gosta de juros altos e é perfeitamente possível fazer políticas fiscal e social, mas não é possível fazê-la com inflação alta. Sobre a indicação de dois diretores que têm mandatos se encerrando em 28 de fevereiro, Campos Neto elogiou a possibilidade de recondução de Paulo Souza na Diretoria de Fiscalização e disse que pode sugerir nomes com experiência de mesa de operações financeiras a Lula para a substituição de Bruno Serra na Diretoria de Política Monetária. No jogo político, o presidente do BC arremessou a bola com elegância ao campo de Lula.
Arnaldo Galvão – Direto de Brasília
Foto: Francisco Rocha