O momento de adaptação do governo Lula com um Banco Central autônomo, cujo presidente foi escolhido por Jair Bolsonaro, tem sido marcado por críticas à Selic de 13,75% que acabam se expandindo ao sistema de metas de inflação e à política monetária tradicional. Roberto Campos Neto disse nesta manhã, em evento aberto, que é preciso ter mais boa vontade com o governo e que o investidor é muito afoito. Por outro lado, alertou que não é hora de fazer experiências, mas melhorar a credibilidade das instituições e das políticas públicas. Ele reconheceu que o debate é importante, mas é preciso aproveitar o momento de boa vontade com o Brasil porque há dinheiro circulando no mundo que pode entrar no país. Sobre a elevação da meta de inflação, Campos Neto avisou que o efeito seria contrário ao desejado porque aumentaria o prêmio de risco. Ele ponderou que aperfeiçoamentos no sistema são bem-vindos, mas muitos países emergentes têm metas de 3%. Na Índia, o objetivo é de 4%, mas há um peso enorme dos preços dos alimentos. Outro alerta dado pelo presidente do BC foi sobre a proposta de controlar as taxas de juros mais longas. Campos Neto afirmou que se a autoridade tira a capacidade de a curva de juros expressar risco, os agentes do mercado vão para outros canais, principalmente o do câmbio. Se isso acontecer, o governo vai ter de se financiar com taxas curtas e essa experiência já mostrou que não acaba bem.
Arnaldo Galvão – Direto de Brasília
Foto: Raphael Ribeiro, BCB