O ministro da Fazenda deu ontem, em Buenos Aires, uma longa resposta a uma pergunta sobre autonomia do Banco Central e meta de inflação. Algumas palavras usadas por ele chamaram a atenção. Fernando Haddad disse que o presidente Lula fez uma “provocação” ao afirmar que Henrique Meirelles teve toda a autonomia à frente do BC durante seus dois mandatos anteriores. Se houve uma provocação, deduz-se que o governo quer discutir se a autonomia formal traz resultados. Independentemente da provocação, o ministro disse que a lei está sendo cumprida e que algumas agências têm autonomia formal, mas, na verdade, foram capturadas pelo governo ou pelo setor privado. O que importa, segundo Haddad, é a atitude de respeito à autonomia operacional do BC e ela faz parte da postura do governo Lula. Ao comentar a meta de inflação, Haddad usou a palavra “apertada” para qualificá-la, mas ponderou que as pesquisas mostram expectativa do mercado para o cumprimento neste ano, já que a banda de 1,5 ponto percentual é “relativamente alta”. Nessa longa resposta, o ministro disse que Lula mencionou outra ponderação hipotética. Afirmou que o teto de gastos pode soar bem, mas é “inexequível”. Haddad defendeu cautela em ser crível, confiável, que é preciso buscar o que é “exigente, demandante, mas exequível”. Na avaliação do ministro da Fazenda, olham para os 3,25%, mas não olham para o teto da banda. Ele afirmou que tudo tem de ser ponderado com sobriedade ao olhar para o mercado, para o comportamento dos preços e a chance de convergir para uma inflação mais baixa que é “sempre mais desejável, sobretudo pensando na parte mais vulnerável da população”.
Arnaldo Galvão – Direto de Brasília
Foto: Luis Robayo/AFP