Rosa Weber está traçando um plano ousado contra Jair Bolsonaro e sua base mais radicalizada. Após ter proferido um dos mais duros discursos de posse de um presidente do STF, a ministra atuará de duas formas. Por um lado evitará temas considerados polêmicos para a maioria da sociedade. E só entrará em casos que possam influenciar as eleições sendo demanda e havendo necessidade real de resolução antes do pleito. Por outro lado, Rosa manteve sob sua sombra casos espinhosos para o bolsonarismo. E vai tentar fazer aquilo que nenhum dos homens que comandou o Supremo conseguiu fazer: ocupar o espaço de Poder Moderador, dando a última palavra na resolução dos embates nacionais. Não à toa manteve sob sua relatoria casos que, se os passasse para Luiz Fux, poderiam acabar sendo lidos como soluções de composição entre Poderes. Em relação ao bolsonarismo, deve decidir sobre o aborto de tal maneira que deixará os apoiadores do presidente nada satisfeitos. E comprará uma das maiores brigas que veremos entre os Poderes: vai dar a última palavra e fazer valer a voz do STF no caso do orçamento secreto e do perdão a Daniel Silveira. Se de sua pena sair a determinação de que o Congresso entregue as planilhas e que o ex-parlamentar volte para a cadeia sob pena de autoridades serem presas, veremos uma Praça dos Três Poderes em transe, com desfecho tão inesperado como que num filme de Godard.
Severino Motta – Direto de Brasília