O gabinete de transição do governo eleito se tornou uma espécie de anteparo para insatisfações de setores que integraram a frente ampla que elegeu Lula-Alckmin, mas temem não ter espaço no governo. A ideia original era uma transição técnica e discreta, a exemplo do que ocorreu em 2002, mas aos poucos o gabinete foi anabolizado com grupos, partidos e lideranças ávidos por protagonismo. A primeira leva de agregados veio com os partidos aliados, PT incluso, setores e personalidades da sociedade civil. Depois entraram os parlamentares e por último os movimentos sociais. A cada ameaça da insatisfação mais nomes eram incluídos. Isso fez com que os grupos de trabalho criados com o objetivo de fazer o diagnóstico e propor ações para os primeiros 100 dias de governo se transformassem em fóruns de debate onde se discute propostas para o futuro do país –e disputa espaço no futuro governo. Muita gente, inclusive a imprensa, se esquece que as propostas apresentadas em dois relatórios (o primeiro entregue hoje e o segundo no dia 11) não passam de sugestões sem qualquer garantia de que serão implementadas. Nem os nomes dos ministros que vão decidir o que vai e o que não vai ser executado foram definidos. Isso tudo não impediu que a maioria dos GTs entregasse os relatórios técnicos concebidos no início da transição. Segundo fontes próximas a Alckmin, os trabalhos evoluíram a contento. Alguns políticos experientes que acompanham o processo avaliam o formato como uma jogada habilidosa para driblar pressões antes mesmo da posse e apelidaram a transição de “governo sem caneta”.
Ricardo Galhardo – Direto de Brasília
Foto: AFP