Após um fim de semana em que o governador de São Paulo, João Doria, fez manchete e ganhou pontos nas redes sociais com a antecipação da vacinação em São Paulo, Bolsonaro deu uma demonstração clara que acusou o golpe. Enquanto governantes dos mais diversos partidos estão correndo numa gincana para ver quem vacina primeiro, Bolsonaro sabe que perdeu a batalha dos imunizantes. Com pesquisas de opinião mostrando menor resistência às vacinas, Bolsonaro parte agora para um ajuste de narrativa. O primeiro passo é colar nas vacinas o rótulo de experimentais, o que, apesar de patentemente falso, serviria num primeiro momento para deixar os imunizantes no mesmo patamar de remédios ineficazes como a cloroquina. Uma entrevista ontem na Record de Rondônia já delineia o próximo passo da narrativa: desmerecer a eficácia da Coronavac, vitrine do rival Doria, e tentar levantar a imagem do imunizante da Pfizer. É, politicamente, uma estratégia difícil: primeiro porque a resistência a vacinas se dá majoritariamente entre bolsonaristas e, para neutros, o presidente não consegue se colocar como um pai da vacinação. Segundo porque a CPI da Covid tem sido, até o momento, bem hábil em escancarar o desprezo com que o governo tratou a Pfizer por todo o ano passado. Ontem, Bolsonaro também se reuniu com a farmacêutica para pedir antecipação de 10 milhões de doses, mais um sinal do desespero. Contudo, a briga pela narrativa pode ter um efeito perverso para a população. Ao atacar novamente o imunizante chinês, o que no passado já causou má vontade no envio de insumos para a produção de vacinas no Brasil, o presidente cutuca novamente o maior parceiro comercial do País e, se houver nova queda no ritmo de vacinação, pode afetar a recuperação econômica.
Mário Sérgio Lima – Direto de Brasília
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